Évora em Nós

quinta-feira, dezembro 28, 2006

SNS

Olá pela segunda vez hoje.
Eu sei que ando chata e com tendências depressivas que vou aliviando em posts menos alegres. E este é mais um deles. Escrevo mais uma a propósito de lágrimas contidas e de revoltas silenciadas.

Ontem tive que ir ao hospital de Faro, à noite, à parte das urgências (nada de preocupante, para quem se preocupar. Só uma infecção urinária que já está quase tratada). E foi muito o esforço para aguentar a água salgada que queria sair pelos olhos. Estou cada vez mais triste e desiludida com este país, e se é verdade o que o Kofi Annan disse, ou seja, cada povo tem o líder que merece, então só posso concluir que como povo não valemos grande coisa. Isto, uma vez que temos líderes que deixam a saúde, área basilar de um país, ao sabor de qualquer coisa terceiro mundista, de países em vias de desenvolvimento, mas um desenvolvimento que tarda e tardará.

Não falo pelas 2h e meia que esperei, ou por ter sido atendida de pé, numa sala de portas abertas , com mais uma velhota a levar uma máscara de oxigénio e uma senhora a soro. Isso é secundário. Falo das dezenas de macas espalhadas pelas corredores, com idosos e menos idosos seminus, tapados unica e exclusivamente por um lençol, numa noite de Dezembro. Falo na falta de dignidade de se mudar uma fralda ali, expondo aquilo que de mais intimo há em nós, a um sem número de desconhecidos que olham com pena, porque mais não podem oferecer. Falo na tosse sofrida de um senhor que escarrou para o chão por não ter outro sitio para o fazer, e que lá estava, de costas em pele, até o tardio cobertor chegar.
E depois de pensar e ver isto tudo, penso que a ideia, de uns senhores iluminados pelo simplex e pelo choque tecnológico, é fechar os pequenos centros de saúde, como o meu, e enviar todas as simplexes doenças para um serviço que está mais do que sobrecarregado e que de certeza que não seria um choque tecnológico que lhe ia aliviar as costuras. Talvez estas ideias sejam de quem nunca se vai arriscar a si ou arriscar a vida de um dos seus no sistema nacional de saúde, porque se trata de perder vidas por falta de condições, na realidade e sem dramatistos.

Quando me perguntam ou me pergunto se tenho orgulho de ser portuguesa... Não. Porque se eu mereço líderes assim não me posso orgulhar do que sou!

Salvaguardo as pessoas que lá trabalham, que no meio de bons e maus profissionais, como há em todo o sítio, fazem o que podem para "nadar sem ter o braço direito".

Beijinhos tristes e revoltados

1 Comments:

  • É a realidade do nosso país. Sei do que fala, e sei do sentimento que a aflije. Tb eu não sinto orgulho de ser portuguesa e pertencer a um país como o nosso.

    By Blogger Kuska, at 8/1/07  

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